Depois de um silêncio confortável sob a proteção dos braços dele em torno de mim, eu tento, com sucesso, esconder o tom apelativo da minha afirmação:
-Sabe, você não precisa ir. - Falo tão baixo que mais parece um sussurro.
Ele sorri soltando um pouco de ar pelo nariz e aperta seu abraço, dizendo:
-Queria dizer o mesmo.
Eu não respondo, embora quisesse dar um discurso quase profissional sobre futuro, oportunidades e chances. Segundas, terceiras, quartas chances. Sobre como o orgulho conseguia destruir certas coisas, incluindo o próprio discurso que estava se formando na minha cabeça, e que de fato ficou apenas na minha cabeça.
Mas para a minha sorte - ou, no momento, azar - ele conseguia interpretar o que eu não dizia. Sempre conseguiu. Era como uma competição, onde seu olhar penetrante corria para captar qualquer sinal de sentimento antes que meu orgulho começasse a escondê-lo. Talvez tenha sido isso que me fez sentir segura por tanto tempo, embora essa segurança estivesse sendo transformada em cacos a cada minuto que passava.
Eu sabia que estava chegando a hora de ir, apenas não queria aceitar. Alertas indiretos e avisos bem diretos não faltaram, o que faltou foi uma frase com três palavras. Se eu dissesse que te amava isso teria sido suficiente? O tom avermelhado do nosso cenário intensificava meu medo e eu dizia:
-Fica aqui, as coisas podem mudar. - Foi tudo o que consegui dizer enquanto beirava a fina linha entre calma aparente e desespero descontrolado.
Ele seguiu olhando a lagoa que estava embaixo dos nossos pés por um instante, jogou uma pedra delicadamente nela, não querendo culpá-la por uma partida já prevista mas dolorosa, e virou o meu rosto até que meus olhos estivessem encarando os dele - embora tenha tentado inutilmente evitar esse contato.
-Eu vou, mas vou ficar aqui. Esse medo eventualmente vai passar, confia em mim. Você ficará mais forte quando a tempestade acalmar, e eu estarei contigo aonde quer que você vá.
Meu medo que ele lesse meus olhos como um livro aberto foi confirmado, era como se ele tivesse ultrapassado todos os bloqueios dentro de mim para ler meus pensamentos. O que ele disse me acalmou, talvez por alguns segundos, até que chegou a hora de dizer adeus. Minha calma aparente, antes prolongada por palavras seguras e de esperança, se transformou em um emaranhado de sussurros errantes, de quando se quer dizer muito mas em pouco tempo. Eu queria dizer o que não tinha dito em alguns anos, o que parecia claramente impossível.
Ele apenas sorria um sorriso acolhedor enquanto me beijava a testa e partia em direção ao horizonte. Engraçado como nesse momento as nuvens se fecharam, proibindo-me de enxergar muito além da travessia para pescadores na qual nos encontrávamos. Eu assisti enquanto ele caminhava sem olhar para trás em momento algum, até desaparecer entre as nuvens.
Naquele tempo eu não sabia o que fazer diante de uma despedida dessa dimensão, e, para falar a verdade, acho que até hoje não sei. Como previsto, fiquei mais forte. Não tenho mais medo da chuva e da tempestade. Costumo dizer que esse medo é bobo pois tenho um amigo lá em cima que controla as nuvens que um dia o cercaram.
E eu não sei o que ele está fazendo agora, mas essa noite eu vou ficar em casa e sentir a sua falta mais do que ele poderia um dia imaginar.
That night you took away a little more than just my breath
I swear to God that I was thinking about the summer
And the lines that I wrote on the walls that saved my life
I don't care if I'll ever be the same
Cause all the time just reminded me of winter
And the drive that I took on the night that saved my life
I swear to God that I was thinking about the summer
And the lines that I wrote on the walls that saved my life
I don't care if I'll ever be the same
Cause all the time just reminded me of winter
And the drive that I took on the night that saved my life