quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal

24 de Dezembro, véspera de natal, todos reunidos em volta de uma mesa lotada de comidas e aperitivos. Todos riem, gritam e se divertem, mais bêbados a cada minuto que a meia noite se aproxima, menos duas pessoas. O casal que estava junto há quase um ano, estava distante de todos os outros.
Uns minutos se passam e o rapaz retira-se da sala, seguido pela moça logo em seguida. Ela sai na sacada e tira um cigarro do bolso de sua camisa.
-Por que você não me fala o que está acontecendo? – Pergunta a garota.
-Não está acontecendo nada. – Diz ele num tom calmo, com um sorrisinho quase que forçado no rosto. – Tem fogo?
- Você tem agido estranho faz uma semana e mal fala comigo!
- Talvez eu esteja cansado de falar, só isso. Fogo?
- Você ainda me ama?
Um breve silêncio toma conta daquela sacada.
- A noite está tão linda, não está?
- Você ainda não respondeu minha pergunta! – Grita ela, começando a chorar.
- E você ainda não me alcançou o fogo!
Mais uma vez o silêncio toma conta de tudo. Ela estática o observando e ele olhando para o céu. Ela põe a mão no bolso e tira um isqueiro velho, e o alcança para o rapaz. Ele acende o cigarro e fecha seus olhos.
- Lembra do dia que nos conhecemos? Eu estava irritado porque tinha perdido todo meu dinheiro em uma aposta e você apareceu... Eu não consegui acender o isqueiro e você me ofereceu o seu. Eu olhei para você e vi seu sorriso... Aquele grande sorriso branco, quase que debochado. Você lembra qual foi a primeira coisa que eu te falei?
- Você não está respondendo minha pergunta!!
- Eu falei: “Que blusa horrível você está usando!”... haha... Você ficou espantada no início, mas riu comigo em seguida... A gente começou a conversar e alguns dias depois, ficamos pela primeira vez. Eu nunca vou me esquecer daquele dia... Você mordeu minha boca tão forte que me tirou sangue... Eu fingi que estava tonto e desmaiando e você quase teve um ataque haha... Naquele momento eu descobri que aquilo ia dar certo. Nos oito meses seguintes, dediquei cada segundo da minha vida para você, e não me arrependo nada disso.
- Por que você está fazendo isso? – Disse ela, chorando cada vez mais.
- Na noite do dia que nos conhecemos, o céu estava exatamente igual a esse... – Ele olha para cima e solta a fumaça para o alto, dando um pequeno sorriso, quase que imperceptível.
O barulho de alguém chegando é ouvido, e a menina fala:
- Só me responda isso, você ainda me ama?
- Não.
Ela arregala seus olhos e fica ali, imóvel.
- Eu não amo você, nem quero você perto de mim, nunca mais.
A menina chora mais ainda e corre dali, esbarrando em outro rapaz que estava chegando ali. Ele observa a garota sair e fala para o rapaz na sacada:
- Você acha que fez o certo?
- Eu estou morrendo, você sabe. O médico me disse que, se eu tiver muita sorte, esse câncer me deixa vivo por mais uns dois meses. Prefiro que ela me esqueça até lá a vê-la chorando ao lado de uma cama de hospital junto ao meu corpo doente.
- Se você diz...
- Eu sempre a amei mais que tudo na minha vida, e isso não mudou. Eu só quero que ela não sofra tanto... Espero que um dia ela me entenda.
- Ela vai... Ela vai sim, meu amigo...
Ele joga seu cigarro pela sacada e recosta-se na parede:
- Belo presente de natal, não?

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